A presente tese é fruto de estudos e pesquisas no campo das dissidências sexuais e de gênero da população LGBT em situação de rua, debruçando-se na compreensão das implicações da rualização sobre os modos de vida e de viver dessa parcela subalterna e submetida aos processos de pobreza e violência colonial e capitalista presentes nos espaços urbanos da Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. A tese considerou como objeto de análise o processo de rualização e de seus impactos na vida de pessoas LGBT com histórico de situação de rua, a partir de suas narrativas e percepções acerca do viver nas ruas. Assim, objetivou-se, em geral, compreender os rebatimentos que o processo de rualização gera nas pessoas LGBT que utilizam os espaços públicos da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro como locais de sobrevivência, frente os processos de opressão a que estão submetidos num contexto social desigual, injusto e desafiador. Elaborou-se o Estado da Arte, utilizando uma revisão integrativa da literatura e um levantamento de teses e dissertações, que culminaram na constituição de um base documental prévia sobre os temas pesquisados, que auxiliou a nortear o desenho da pesquisa. Por seguinte, a partir de uma abordagem decolonial, o percurso metodológico consistiu em uma pesquisa qualitativa com a realização de oito entrevistas semiestruturadas e observação participante, mediante a utilização de diário de campo. Para a análise dos dados, foi utilizado a técnica de núcleos de significação, identificando, sumariamente, que a rualização incide diretamente nos modos de vida e de viver das pessoas LGBT em situação de rua, por meio de processos estruturais de violências e opressões combinadas de racismo, LGBTfobia e aporofobia, estabelecendo a indissociabilidade de análise dos marcadores de raça, gênero e classe nas significações estabelecidas pelos sujeitos participantes. A partir das narrativas apresentadas pelas pessoas entrevistadas, conclui-se que para falar de Pessoas LGBT em situação de rua, exige-se uma atenção às particularidades de um grupo subalterno e dissidente, que coexiste em um espaço urbano desigual, violento e desumanizador. As afirmativas analisadas apontam para uma realidade de lutas cotidianas que reivindicam o direito de existir e resistir em uma sociedade que é produto de uma sociabilidade cisheteronormativa, engendrada em padrões de valor impostos pelo ideário neoconservador, fruto de uma herança colonial que persiste no aniquilamento e na subversão do Outro.