O contexto da segurança pública no Rio de Janeiro é marcado por uma dinâmica violenta, sobretudo em áreas periféricas dominadas por grupos criminosos, como facções do narcotráfico e milícias. Embora os grupos ilegais representem uma fonte de violência, as práticas violentas das instituições públicas, especialmente da Polícia Militar, também são determinantes, expondo a população a ações extremas que atingem de maneira desproporcional áreas vulneráveis. Contudo, a governamentalidade brasileira, especialmente no setor de segurança pública do Rio de Janeiro, reflete padrões clientelistas, corporativistas e formalistas, que servem para legitimar práticas extralegais e perpetuar estruturas de impunidade. Essas práticas, somadas ao discurso de guerra contra o crime, criam um mosaico de poderes ilegais que contribuem para a reprodução de violência e o fortalecimento de grupos como as milícias. Dessa maneira, o estudo busca analisar as políticas de segurança pública no Rio de Janeiro entre 2000 e 2021, com base nos conceitos de governamentalidade (Foucault, 1979) e necropolítica (Mbembe, 2018), a fim de compreender como essas fundamentações teóricas são aplicadas e geram estruturas socioespaciais violentas. A pesquisa demonstra que a atuação das instituições de segurança e as redes clientelistas e corporativistas não apenas alimentam a violência, mas também legitimam práticas necropolíticas no contexto urbano carioca.