Nesta tese, analisamos o cuidado prestado a crianças e adolescentes em situação de violência sexual, com foco na dimensão intersubjetiva, à luz das contribuições da psicanálise e da saúde coletiva. Para um aprofundamento analítico, dividimos a tese em três estudos. No primeiro estudo, investigamos o impacto da pandemia de COVID-19 no cuidado oferecido a esse público, por meio de uma revisão narrativa realizada entre julho e agosto de 2023. No segundo estudo, refletimos sobre a violência sexual e a gestação na infância e na adolescência, a partir da análise de dois casos de grande repercussão na imprensa nacional. Em ambos, as meninas enfrentaram dificuldades para acessar o serviço de interrupção legal da gestação, mesmo após a confirmação da gravidez resultante da violência. A análise é conduzida sob duas perspectivas: a da saúde pública e a da psicanálise, com ênfase nos conceitos de trauma e desmentido, conforme propostos por Sándor Ferenczi. No terceiro estudo, examinamos os afetos e as defesas psíquicas mobilizados na escuta de histórias de violência sexual contra crianças e adolescentes, a partir do ponto de vista dos profissionais de saúde. Utilizando uma metodologia clínico-qualitativa, entrevistamos 14 profissionais do SUS, atuantes nas esferas de atenção primária, secundária e terciária. Reconhecer as necessidades subjetivas desses profissionais mostra-se essencial para que possam lidar com seus próprios afetos e dores, frequentemente silenciados. Por fim, enfatizamos a dimensão ética do reconhecimento e os efeitos traumáticos que emergem do desmentido institucional, ressaltando a urgência de políticas públicas que priorizem o cuidado integral e humanizado em todas as suas dimensões.