O presente trabalho tem como objetivo investigar as escutas do envelhecer na clínica psicanalítica. Inicialmente, examina-se o lugar do idoso em nossa sociedade, a partir de determinadas representações sociais e saberes construídos em torno desse momento de vida. Em seguida, descreve-se a relevância das sucessivas e, muitas vezes, concomitantes perdas neste estágio do ciclo de vida, a possibilidade do trabalho de elaboração psíquica dos lutos na clínica e a questão do desamparo. Ademais, pretende-se refletir sobre o lugar de escuta do sofrimento psíquico do idoso pela ótica de alguns textos freudianos que questionam a possibilidade de um trabalho psicanalítico nessa faixa etária. Por fim, discute-se instrumentos importantes da psicanálise para pensar a clínica com idosos. Utiliza-se fragmentos clínicos de atendimentos realizados no Centro de Doenças de Alzheimer e outras Desordens Mentais na Velhice, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ilustrando assim a discussão ao longo do texto. Considera-se que a clínica psicanalítica, em suas amplas possibilidades de afetar e se deixar afetar, deve sustentar a escuta singular dos processos do envelhecer, favorecendo a elaboração de lutos e o sentimento de sentir-se vivo.