O trabalho a seguir analisou o fenômeno social dos deslocamentos migratórios e como são manifestados os sentimentos de pertencimento na favela de Rio das Pedras. O desenvolvimento industrial proporcionou uma entrada expressiva de migrantes no mercado de trabalho formal, no entanto, este processo revelou as fragilidades urbanas em receber esses trabalhadores. Interessa-me analisar como se desenvolveu a ocupação da favela e quais foram as estratégias incorporadas a fim de dobrar a cidade. Dediquei-me a compreender como os sujeitos qualificavam os afetos em torno dos deslocamentos migratórios e se existia, porventura, a concepção do pecado da ausência (SAYAD, 1998). Neste trabalho a análise privilegiou a produção de sentimentos através da memória, como uma importante fonte analítica na construção das permanências. A pergunta central do trabalho é: o que faz as pessoas insistirem na permanência do deslocamento? Investiguei como foram construídas as elaborações em torno do ato em permanecer em um novo território e qual é a contribuição da memória. Tendo em vista os afetos desenvolvidos durante estes trânsitos, pretendo analisar os certames morais entre a solidão e solicitude. A metodologia foi análise de trajetórias e observação participante de inspiração etnográfica. A postura adotada foi delimitar o tema e permitir experenciar o campo, evitar um dirigismo teórico antecipado e assumir uma postura sensível ao campo. Em vários momentos lidei com a produção de angústias e foi necessário navegar em meio à neblina. O salto analítico da pesquisa foi me autorizar e me permitir se afetar pelo campo como aborda Favret-Saada (2005).