Esta tese investiga as repercussões da pandemia de Covid-19 nas relações familiares de famílias atendidas em psicoterapia. Para tanto, realizamos uma pesquisa clínico-qualitativa a partir dos relatórios das sessões de psicoterapia de família, com oito famílias pertencentes aos segmentos médio-baixos e baixos da população carioca, atendidas no SPA da universidade onde a pesquisa foi desenvolvida. Os resultados foram analisados de acordo com o método de análise de conteúdo na sua vertente categorial. Das análises realizadas, emergiram cinco categorias: convivência familiar na pandemia e suas subcategorias; indiferenciação e conflitos, e (re)descobrindo meu filho; atendimento remoto e suas subcategorias, o corpo na tela e brincar no modo zoom; experiências emocionais na pandemia; parentalização e suporte emocional, e parentalização e gênero. Para fins de apresentação dos resultados da investigação, essa tese foi desdobrada em quatro artigos. No primeiro, pesquisamos os impactos do confinamento decorrentes da Covid-19 na dinâmica relacional entre pais e filhos. Os resultados revelaram que a convivência intensa, promovida pelo confinamento, agudizou alguns conflitos na dinâmica parento-filial, porém, também estreitou os vínculos e proporcionou mais tempo compartilhado entre pais e filhos. No segundo, estudamos sobre as especificidades do setting terapêutico no atendimento remoto de famílias no período pandêmico. Verificamos que além dos impasses, são muitos os manejos possíveis para a prática do atendimento remoto. Tal modalidade exige a adaptação dos psicoterapeutas, para que o corpo e o brincar sejam incluídos no ambiente virtual. No terceiro artigo, investigamos os impactos da pandemia de Covid 19 na vivência emocional dos membros da família em vulnerabilidade. Observamos como a desigualdade social interferiu em como essas famílias vivenciaram o período da pandemia. Os dados clínicos apontaram uma relação entre adoecimento e a precariedade experimentada por essas pessoas nesse período. No quarto artigo, analisamos as repercussões da parentalização na dinâmica relacional entre mães e filhas atendidas em psicoterapia durante a pandemia. Os resultados sugeriram que os papéis de gênero e a transmissão geracional possuem um impacto significativo no processo de parentalização. De modo mais amplo, concluímos que a Covid19 trouxe muitos efeitos para as relações familiares e para a prática da psicoterapia de família. A experiencia pandêmica, comum a todos, mas vivenciada de formas diferentes por muitos, transformou o mundo e o separou em um antes e um depois.