O sistema capitalista impacta diretamente a produção do conteúdo direcionado às crianças, formando uma cultura de massa, a atual cibercultura, e o consumo em larga escala, deixando marcas significativas no desenvolvimento cultural das crianças na primeira infância. Dois dos principais pontos desta discussão são a padronização da infância e a discussão sobre a responsabilização do conteúdo veiculado a partir de algoritmos das plataformas em meio à crescente sociedade do cansaço. Assim, o objetivo principal deste trabalho é compreender como o sistema capitalista influencia a produção dos conteúdos audiovisuais infantis brasileiros. Para isso, parte-se da contextualização do sistema capitalista neoliberal e de seu desenvolvimento histórico, relacionando-o com sua atual fase enquanto sistema de vigilância. Destaca-se a crescente padronização da infância e dos produtos voltados para esse público, sobretudo com a ascensão das novas mídias, a lógica bidirecional de comunicação e a mundialização do capital. É neste panorama que a dissertação apresenta dois estudos. O primeiro foi dedicado à realização de uma revisão sistemática da literatura sobre as novas narrativas audiovisuais infantis plataformizadas e seus efeitos na infância. Os principais resultados apontam o excesso de responsabilização para os pais em detrimento de uma maior regulação das mídias e conglomerados que as financiam. O segundo estudou contempla uma análise dos 12 canais de maior audiência no YouTube com conteúdo voltado para crianças, com foco especial nos canais: Maria Clara e JP e Kids Diana Show. Foram selecionados vídeos para posterior transcrição e análise lexical através do software IRaMuTeQ. Através de nuvem de palavras e análise de similitude, identificaram-se palavras recorrentes e padrões de discurso que reforçaram o consumo, o acúmulo e a homogeneização da cultura. Conclui-se que o desenvolvimento infantil, sob uma perspectiva de cultura e identidade, está intrinsecamente ligado ao sistema econômico vigente. A padronização dos conteúdos infantis reflete a influência do sistema capitalista na infância, ressaltando a importância de uma análise crítica e de intervenções para regulamentar as mídias, responsabilizar plataformas no intuito de promover um desenvolvimento saudável, seguro e representativo das crianças, o que é garantido a elas por direito. Portanto, faz-se necessário investir mais em estudos e políticas públicas para a regulação das plataformas digitais, destacando a necessidade de compreender não apenas a utilização dos dispositivos, mas principalmente a qualidade e responsabilidade dos conteúdos veiculados.