A monografia oferece uma visão pós-estruturalista de narrativas identitárias dominantes na produção e reprodução de conflitos na Somália, visando desestabilizá-las a partir de uma análise discursiva que revele seus pressupostos e suas ambiguidades. Ela visa provar a hipótese de que ao longo da história recente da Somália foram mobilizados certos discursos que posicionaram os sujeitos somalis em relação uns aos outros e em relação a sujeitos externos de formas específicas, produzindo identidades hierarquizadas, que por sua vez atuaram de forma a reproduzir práticas conflitivas. Para isso, analisam-se duas identidades informadas por discursos dominantes e que predominaram em momentos diferentes: a que postula que a Somália é um país homogêneo devido a uma suposta homogeneidade étnica, linguística e religiosa e a que coloca que os somalis são tribais, inerentemente violentos e possuem diferenças irreconciliáveis. Argumenta-se que o primeiro discurso é informado por uma gramática ocidental acerca do Estado moderno e teve consequências materiais, na forma de marginalização e silenciamento da diferença, e que o segundo eterniza o conflito e internaliza a culpa por ele e contribui para a reprodução da violência interclânica e da guerra civil. Em ambos, destaca-se o papel do Ocidente na reprodução e disseminação de tais discursos e, portanto, na construção das identidades e nas práticas e realidades por ela autorizadas.