O genocídio de Ruanda foi uma das mais sombrias passagens da história da humanidade, quando entre 800.000 e 1.500.000 pessoas, estimadamente, foram mortas. A velocidade dos massacres do genocídio de Ruanda foi superior às do holocausto. O presente trabalho pretende traçar uma análise de tal evento, desde o cenário do país antes do genocídio – visando compreender sua orquestração –, passando por uma análise de sua execução, até as consequências do genocídio para Ruanda e para a comunidade internacional. Mais do que isso, pretende-se testar a hipótese de que o genocídio só foi permitido por a violência étnica intrínseca ao discurso de ódio proferido pelo Poder Hutu – que teve por base a retomada e reinterpretação do mito hamítico, anteriormente evocado pelos colonizadores – ter sido institucionalizada pelo Estado ruandês, ter sido transformada em política de Estado. Assim, pretende-se também argumentar que a teoria pós-estruturalista de Relações Internacionais explica eficientemente tal processo, dado que considera que a manipulação das identidades Hutu e Tutsi foi feita através do discurso, na medida em que as práticas discursivas são formas de reprodução de representações da realidade que, repetidas ao longo do tempo, permitem a formulação e execução de políticas.