Nas últimas décadas eclodiram no continente latino-americano movimentos democráticos protagonizados por grupos populacionais outrora marginalizados levantando-se contra a exploração social, ecológica e política. Na Bolívia, desde o início deste século, promoveram-se significativas mudanças impulsionadas especialmente pela população indígeno-camponesa historicamente excluída. Demandou-se a transição de um modelo de Estado liberal-representativo a um modelo de Estado Plurinacional e debateu-se intensamente um novo modelo que superasse o modelo desenvolvimentista e que pudesse integrar-se de maneira diferenciada à economia mundial. Este trabalho pretende percorrer esses debates, fazendo uso principalmente de autoras e autores bolivianxs e latino-americanxs ao explorar a questão identitária no país, que perpassa pontos complexos como proposições de novas epistemologias e a refundação de um Estado mais abrangente e inclusivo. Além dos debates sócio-políticos e culturais, essa investigação também se debruça sobre as finanças públicas do Estado Plurinacional comandado pelo Movimento Al Socialismo (MAS), buscando nelas informações acerca dos alcances e dos limites materiais do processo de transformação estatal boliviano e considerando a hipótese de que esse processo de transformação só pode ser levado à cabo de maneira mais efetiva se for combinado com uma mudança na configuração do orçamento estatal. Além das questões estruturais e orçamentárias, também são discutidas as reconfigurações de poder político que influenciaram nas limitações deste processo.