Não seria possível compreender a atuação do psicólogo nas sofisticadas UTIs Neonatais da atualidade, se deixássemos de considerar as transformações que se deram em relação à assistência ao recém-nascido ao longo dos últimos séculos, bem como o contexto sócio-político e econômico no qual estavam inseridas. Em tempos longínquos, o nascimento de uma criança acontecia no domicílio da família e era tratado como um evento natural e espontâneo. Gradativamente, o processo de medicalização do nascimento transferiu-o para dentro dos hospitais, e, à medida que os avanços científicos e tecnológicos propiciavam a ampliação do saber relativo às fisiopatologias da gestante e do bebê, consolidava-se o paradigma biomédico na prática obstétrica. Assim, na passagem do século XIX para o XX, surgiram os primeiros berçários e centros para prematuros na Europa. Esses berçários evoluíram para as UTIs Neonatais dos dias atuais, cuja complexidade assistencial elevou a índices inimagináveis a sobrevida de bebês cada vez menores. O objetivo deste estudo exploratório foi retratar a atuação do psicólogo nessas UTIs. A partir de uma pesquisa bibliográfica, foram delineadas as condições que favoreceram a sua inserção nas equipes multidisciplinares que compõem essas Unidades, bem como as práticas de assistência humanizada que as caracterizam. Um estudo complementar foi desenvolvido através de pesquisa qualitativa, com o objetivo de mapear a experiência subjetiva do psicólogo no exercício da função. O método utilizado foi o MEDS - Método de Explicitação do Discurso Subjacente, desenvolvido na PUC-Rio, a partir da integração de diferentes procedimentos metodológicos aplicados durante pelo menos duas décadas em pesquisas na área de psicologia clínica. Seguindo os critérios estipulados por tal método, os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com quatro psicólogas atuantes em instituições privadas e públicas da cidade do Rio de Janeiro. Os resultados mostraram que a figura do psicólogo vem se consolidando como uma referência dentro das UTIs Neonatais, tanto para as famílias quanto para a equipe, e exerce papel fundamental na construção de um ambiente mais humanizado. Apesar disso, ainda há metas a serem alcançadas no que se refere a uma assitência humanizada de excelência, que permita oferecer aos bebês prematuros e suas famílias o acolhimento necessário para vencerem os desafios psicológicos que o contexto da internação numa UTI Neonatal os impõe.