INFÂNCIA, FORMAÇÃO E CULTURA: UMA TRAJETÓRIA DE PESQUISA1

Sonia Kramer2

“Nós não perguntamos à natureza e ela não nos responde. Colocamos as perguntas para nós mesmos e de certo modo organizamos a observação ou a experiência para obtermos a resposta. Quando estudamos o homem, procuramos e encontramos signos em toda parte e nos empenhamos em interpretar o seu significado.” Mikhail Bakhtin (2003, p. 319.)

“Em certa medida, a compreensão é sempre dialógica.”
Mikhail Bakhtin (2003, p. 316.)

Resumo

Este texto apresenta a trajetória do Grupo de Pesquisa Infância, Formação e Cultura (INFOC). O grupo desenvolve pesquisas voltadas a políticas públicas de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, formação de professores, leitura/escrita, interações de crianças e adultos na cultura contemporânea. O texto aborda, inicialmente os dois projetos institucionais desenvolvidos nos últimos anos: “Formação de profissionais de educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro realizado”, concluído em 2004, e “Crianças e adultos em diferentes contextos: infância, a cultura contemporânea e a educação”, iniciado em 2005. Em seguida, sintetiza referências teóricas metodológicas que os orientam, baseadas nos estudos da linguagem (Bakhtin, Benjamin e Vygotsky), na sociologia da infância e nas políticas públicas. No terceiro item, descreve projetos desenvolvidos como teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização. As principais produções da equipe e as questões críticas de pesquisa são abordadas ao longo do texto.

Palavras-Chave: infância; formação de professores; interações entre adultos e crianças; políticas públicas.

Abstract

This paper presents the trajectory of the research group about Infancy, Education and Culture. The group develops research on educational public policies, child, pre-school and elementary school education, teacher education, reading and writing, adults and children interactions in contemporary society and culture. First, the paper focuses the two institutional projects that have been developed recently: “Pre-school teachers’ education in the State of Rio de Janeiro”, concluded in 2004, and “Children and adults in various contexts: infancy, contemporary culture and education”, which began in March 2005. Secondly, it summarizes theoretical and methodological framework, based on language studies (Bakhtin, Benjamin e Vygotsky), sociology of childhood and public policies. On the third moment, the text describes the projects that have been developed as doctoring thesis, master dissertation and specialization monographs. Our most relevant texts and the research critical questions are discussed along the paper.

Key-words: infancy; teacher education; children and adults interactions; public policies.

Introdução

        O Grupo de Pesquisas sobre Infância, Formação e Cultura (INFOC) vem, desde 1999, realizando pesquisas voltadas a políticas públicas de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, à formação de seus profissionais, à leitura/escrita, interações de crianças e adultos na cultura contemporânea3 . A fundamentação teórico-metodológica é delineada com base, de um lado, em autores do campo dos estudos da linguagem e dos estudos culturais, de outro lado, nas áreas de políticas públicas, formação de professores e educação infantil. Os aportes da antropologia e da chamada sociologia da infância são também considerados, em especial no que diz respeito ao trabalho de campo, incluindo observações e entrevistas.
        O Grupo de Pesquisa INFOC tem caráter interinstitucional: conta com professores doutores da UFRJ, UNIRIO e PUC e com doutorandas, mestres, mestrandas, graduandas e especialistas em educação infantil (PUC-Rio).4 Organiza-se em mini-grupos que têm o objetivo de aprofundar estudos relativos ao referencial teórico de base e a temas específicos que emergem do campo ou das análises.
        Este texto apresenta inicialmente um relato breve da trajetória da equipe e os dois projetos de pesquisa desenvolvidos. Em seguida, sintetiza o projeto de pesquisa institucional agora em curso e as referências teóricas metodológicas que o orientam. No terceiro item, são descritos os projetos realizados por pós-graduandos como teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização.

1. Uma trajetória institucional de pesquisa: das políticas às práticas

        De 1999 até 2004, desenvolvemos a pesquisa Formação de Profissionais de Educação infantil no Estado do Rio de Janeiro: concepções, políticas e modos de implementação”. Com o foco na formação de profissionais da educação infantil, procuramos compreender suas relações e complexidade, registrando histórias de formação, condições de trabalho, dificuldades, conflitos. Os temas de identidade, gestão, concepções de infância, concepções de educação infantil e formação de profissionais da educação infantil emergiram como eixos importantes. Os material colhido e analisado está sistematizado em duas publicações coletivas: “Formação de Profissionais de educação infantil: Relatório de Pesquisa (Kramer et ali, 2001) e “Profissionais de educação infantil: gestão e formação (Kramer, org, 2005).
        Em Kramer et ali (2001) trazemos um balanço da cobertura do atendimento, da organização e funcionamento do ensino fundamental e da educação infantil, da formação, ingresso e carreira na rede pública dos profissionais de educação infantil, dos recursos financeiros e materiais e das instituições culturais, a partir de dados obtidos através do questionário aplicado às secretarias municipais de educação do Estado do Rio de Janeiro (respondido por 54 das 92 secretarias). O contexto da história e a política da educação infantil no Brasil são considerados na análise da formação e dos desafios enfrentados pelas políticas municipais a partir da LDB de 1996 e o impacto do FUNDEF. Uma síntese deste material pode ser também encontrada no artigo de Corsino, Nunes e Kramer (2003).
        Em Kramer (2005) analisamos entrevistas realizadas com 57 responsáveis pela educação infantil de secretarias municipais de educação do Estado do Rio de Janeiro. Por ‘profissionais da educação infantil’ entendemos professoras que atuam diretamente com as crianças e responsáveis pela educação infantil no âmbito das creches, escolas, secretarias de educação e instâncias intermediárias (coordenadorias regionais etc). Como os cargos de gestão são temporários, o que as caracteriza, segundo muitas entrevistadas, é o fato de que elas “estão” na coordenação, mas “são” professoras. Dentre as questões que emergiram nos relatos das histórias de formação e que são discutidas neste livro, podemos citar: entrada e permanência na profissão; inquietações e ambigüidades das suas trajetórias; educar e cuidar; gestão da educação infantil, suas concepções e distorções; identidade profissional; práticas e/de formação, seus problemas e dilemas; relação entre teoria e prática. A situação das crianças de 0 a 6 anos no contexto sócio-demográfico nacional e o tema da necessária institucionalização da infância são também abordados no livro. A conclusão destaca a formação de professores como parte do processo de democratização da educação infantil. Com base na idéia de que a formação de professores é um passo necessário para assegurar o direito de todas as crianças de 0 a 6 anos à educação infantil, apresentamos recomendações para políticas de educação infantil e de formação de profissionais, particularmente professores.
        A partir da pesquisa desenvolvida nos últimos cinco anos sobre Formação de Profissionais de Educação Infantil, voltada para políticas de educação infantil e de formação de professores nos municípios do Estado do Rio de Janeiro (Kramer et alii, 2001; 2003, 2005), a investigação em curso desde o início de 2005 volta-se para as práticas institucionais, nelas, às crianças e adultos. Desdobrando-se de uma perspectiva de caráter macro e meso, que estudou as políticas públicas e as instâncias intermediárias (secretarias de educação e coordenações responsáveis pela educação infantil), este estudo se concentra na dimensão micro, buscando compreender como a totalidade se revela na particularidade (Benjamin, 1987b; Kramer, 1993), como as políticas ecoam nas práticas e dialeticamente, como as práticas informam (ou podem informar) as políticas. A pesquisa atual – “Crianças e adultos em diferentes contextos: a infância, a cultura contemporânea e a educação - tem assim o objetivo de conhecer e compreender interações entre crianças e adultos em creches, escolas de educação infantil e escolas de ensino fundamental que têm turmas de educação infantil. As questões privilegiadas pelo estudo estão relacionadas à identidade, diversidade e autoridade. A metodologia inclui revisão bibliográfica e aprofundamento do referencial teórico. O trabalho de campo tem como estratégias metodológicas: observação, a fim de conhecer ações, interações, práticas, valores éticos, conceitos e preconceitos que as permeiam; (ii) entrevistas individuais e coletivas com adultos e crianças incluindo, no caso das crianças as narrativas orais e a expressão do corpo e seus movimentos; (iii) interações a partir de produções culturais das e para crianças (desenhos, dramatizações, construção de maquetes, livros de história, filmes), com o intuito de compreender interações entre crianças, de crianças com adultos e com produções culturais.
        Pretendemos conhecer interações entre crianças e adultos bem como práticas realizadas na educação infantil e no ensino fundamental (três anos do 1o ciclo) e compreender como se dá a circulação de conceitos e preconceitos e as relações de autoridade. Serão realizados estudos de caso simultâneos em instituições situadas na cidade do Rio de Janeiro a saber: escolas de educação infantil pública; escolas públicas onde há turmas de educação infantil e ensino fundamental; creches públicas (recém transferidas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social para a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro); creches comunitárias. Além de conhecer a dinâmica das práticas e interações no interior das creches e escolas estudadas, é objetivo do projeto perceber como se dá (ou não) a interação com a produção cultural para as crianças, em termos dos acervos de livros e brinquedos de cada escola ou creche, para compreender as suas significações, como (e se) constituem objeto das práticas cotidianas, se ficam ao alcance e acesso das crianças, como são usados. Aqui é relevante perceber como adultos e crianças se apropriam dos temas da mídia e do consumo. Além disso, outros temas – de teses, dissertações e monografias - apesar de não serem o foco da pesquisa institucional neste momento, oferecem elementos de interlocução relativos às interações de escolas, pré-escolas e creches com espaços culturais tais como museus, teatros e cinemas; espaços de natureza social e política como o Conselho Tutelar; e espaços urbanos não institucionais, como praças, parques e shoppings. Interessa-nos, ainda, compreender processos de transição e inserção na escolaridade posterior, a saber, na escola fundamental.
        Assim, os objetivos se voltam ao conhecimento das práticas estabelecidas no interior das creches, pré-escolas e escolas, buscando nelas a presença da cultura contemporânea que circula fora dos muros das instituições. A questão central é, pois, a de identificar e conhecer ações, relações e interações de crianças e adultos, considerando a dinâmica da cultura e da sociedade contemporânea, entendendo que a cultura marca, constitui, institui, nomeia, identifica.
        As condições concretas de classe social e o contexto cultural em que cada uma das instituições se insere serão descritos de forma a que se torne possível cotejar resultados e estabelecer aproximações e afastamentos, bem como delinear conclusões, ainda que parciais e provisórias, um requisito da pesquisa em ciências humanas e sociais.

2. Questões centrais do estudo e referências teórico-metodológicas

        A pesquisa “Crianças e adultos em diferentes contextos: a infância, a cultura contemporânea e a educação” se fundamenta em três campos teóricos: o dos estudos da linguagem, onde o outro ocupa papel fundamental na construção do meu conhecimento; o da antropologia, que traz contribuições essenciais para a compreensão das significações atribuídas pelo outro. Nesse contexto, as principais referências advêm particularmente da obra de Mikhail Bakhtin, Lev Vygotsky e Walter Benjamin: Bakhtin por sua compreensão da linguagem fundamentada na história e na sociologia; Vygotsky, por sua busca de uma psicologia fundada na história e na sociologia, Benjamin, por sua concepção de infância na cultura contemporânea. Além dessas referências, são levadas em consideração produções recentes da história da infância e da chamada sociologia da infância.
        Assumimos o desafio de abordar o objeto da pesquisa (que é sempre, nas ciências humanas, um sujeito, segundo Bakhtin) no âmbito de uma antropologia filosófica que, de acordo com Benjamin (1984), é o caminho necessário para o estudo da infância. A fundamentação teórica remete, assim, à antropologia na medida em que se propõe a compreender as significações, e também à filosofia, na medida em que lida com pressupostos e implicações (Ribeiro 2002, p. 66). Temos uma combinação entre o método sócio-antropológico e os estudos da linguagem, combinação que se torna necessária para que possamos conhecer interações e práticas entre crianças e adultos nos espaços de educação infantil e ensino fundamental escolhidos, e compreender de que modo a cultura contemporânea se manifesta nestes espaços. O resultado do ponto de vista metodológico, não pode ser entendido como uma etnografia no sentido estrito, tanto pelas estratégias que serão adotadas, quanto pela reflexão sobre pressupostos e implicações dessas interações na educação das crianças, embora se beneficie das estratégias do trabalho etnográfico.
        Diversas áreas do conhecimento que estudam a infância, seu escopo e questões, têm contribuído também para essa reflexão que problematiza as concepções de infância como categoria e os aspectos metodológicos que precisamos considerar para dar conta de conhecer os diferentes campos e contextos empíricos onde as crianças agem e interagem, com crianças e com adultos. Questões relativas à infância e historicidade têm sido discutidas (Benjamin, 1987b; Pasolini, 1990; Gagnebin, 1994; Postman, 1999). No que se refere à chamada sociologia da infância, levamos em conta a pesquisa feita nos anos 40 por Florestan Fernandes (1979), Montandon (2001), Sirota (2001), Sarmento (2000, 2001), Sarmento e Pinto (1997) e Pinto (1997), Ferreira (2004). Quanto à infância, história e políticas públicas, trabalhos de Bazílio (1998), Rizzini (1993), entre outros, são referência. Há ainda estudos voltados para a infância como categoria da história: desde Ariès (1981), Ariès e Chartier (1991), até trabalhos de historiadores brasileiros (Freitas, 2001; Tozoni-Reis, 2002; Monarcha, 2001; entre outros). A antropologia tem sido, como já disse acima, um campo importante de estudos da equipe (DaMatta, 1987; Velho, 1978, 1999, 2003).5
        O método que começamos a trilhar neste projeto se beneficia de toda esta produção, bem como de pesquisas por nós orientadas ao longo da década de 90 que, com base em, Benjamin, Bakhtin e Vygotsky já buscavam construir um olhar e uma escuta sensível para captar as ações e interações infantis e para compreender as crianças6 . O projeto está orientado por questões relativas ao conhecimento, à ética e à estética (Bakhtin, 1992). Valendo-nos do método como desvio e dando atenção às insignificâncias, aos detritos, aos restos, às dobras, podemos dizer que a infância é tomada como categoria central da história e as crianças são vistas como estando sempre em um canteiro de obras, agindo, procurando, provocando a desordem (Benjamin, 1987b, 1984). Situando-se em um campo denominado por Benjamin de antropologia filosófica, aqui as figuras do colecionador, do cronista e do trapeiro são importantes. O percurso metodológico está centrado, assim, nas contribuições da antropologia e na construção de um olhar e uma escuta para captar e compreender crianças, adultos e suas interações. De acordo com Bakhtin (1992; 2003), a pesquisa em ciências humanas é sempre estudo de textos (falados e escritos): diários de campos, transcrições de entrevistas são, mais do que aparatos técnicos, modos de conhecimento. Aqui, é preciso admitir recortes e vieses e, sobretudo, procurar a distância, o afastamento, a exotopia, de forma a favorecer que o real seja captado na sua provisoriedade, dinâmica, multiplicidade e polifonia. Como diz Amorim, “é dando ao sujeito um outro sentido, uma outra configuração, que o pesquisador, assim como o artista, dá de seu lugar, isto é, dá aquilo que somente de sua posição e portanto com seus valores é possível enxergar“ (2003, p.14). A mesma autora analisa que “é preciso que o pesquisador assuma a responsabilidade de sua posição singular, ou seja, assuma a exotopia constitutiva da pesquisa” (p.24), o que constitui uma orientação teórica importante desta pesquisa. Além disso, os textos produzidos, para serem entendidos, exigem que se explicite as condições de produção dos discursos, práticas e interações. Texto e contexto são, para o pesquisador, importantes ferramentas conceituais.
        Temos feito um sério esforço teórico-metodológico neste sentido. Várias pesquisas foram realizadas como teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização. É sobre essa produção que se detêm o item a seguir.

3. Ao longo da trajetória, teses, dissertações e monografias de especialização

        Estão sendo realizadas pesquisas específicas, como teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias da especialização em educação infantil, que são colocadas em interlocução com os resultados da pesquisa institucional. Esses estudos se apropriam das discussões teórico-metodológicas da pesquisa institucional, mas se fundamentam também em aportes teóricos específicos pertinentes aos seus temas e formas de abordagem. Até o momento, foram elaboradas as pesquisas descritas a seguir.
        Patrícia Corsino (2003) na sua tese de doutorado “Infância, linguagem e letramento: Educação Infantil” teve como objetivo conhecer as concepções de infância, linguagem e letramento que permeiam discursos e práticas das diferentes instâncias da Educação Infantil da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro. Fundamenta-se na produção relativa à história e política da educação da criança de 0 a 6 anos; na concepção de criança como produtora de cultura, cidadã de direitos e na linguagem como espaço das interações sociais e lugar de constituição da consciência, desenvolvimento e formação. Tais fundamentos foram delineados a partir de referencial bibliográfico específico de cada eixo de estudo, e teve como pilares as idéias de Bakhtin, Benjamin e Vygotsky. A tese discute a construção histórica e social da infância e aborda a situação da infância no Brasil, apontando desafios para os sistemas educacionais, no que diz respeito à Educação Infantil. Analisa a seguir linguagem e infância, a linguagem escrita no mundo contemporâneo, infância e letramento, os processos de construção da escrita e limites e possibilidades da literatura infantil para a criança de 0 a 6 anos. Focaliza então a Educação Infantil da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro: traça o panorama da cobertura do atendimento da Educação Infantil, percorre a história da Educação Infantil no município e finaliza com questões identificadas em entrevistas e observações.7
        A tese de doutorado de José Alfredo Debortoli (2003) – “Infâncias na creche: corpo e memória nas práticas e nos discursos da educação infantil: um estudo de caso em Belo Horizonte” - discute a importância do brincar e da brincadeira na formação humana de crianças de 0 a 6 anos. Mediante a observação do cotidiano, visa conhecer processos de institucionalização da Educação Infantil em uma creche comunitária conveniada com a Prefeitura de Belo Horizonte. Foram analisados tempos, espaços e relações pedagógicas que se expressam como “educação corporal” e envolvem professoras e crianças em um contexto escolar. Na pesquisa de campo foram realizadas entrevistas individuais e coletivas, trazendo a fala das professoras para o centro das relações. A tese tem como foco o projeto cultural que, em Belo Horizonte, constitui a formação e a trajetória de crianças e professoras visando compreender os significados das narrativas e práticas das professoras. As brincadeiras, as artes e as práticas corporais observadas emergem como conhecimentos contextualizados na cultura contemporânea; tanto trazem marcas da institucionalização das relações como abrem brechas para a mediação das experiências sociais, revelando-se como dimensão ética e estética do humano, tempo-espaço de ampliação das possibilidades de ler o mundo e escrever uma história coletiva. Bakhtin foi uma referência teórica central desta tese.
        Maria Fernanda Rezende Nunes (2005) na sua tese de doutorado “Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro: um estudo das estratégias municipais de atendimento”, defendida na UFRJ, discute o universo que compõe a Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro, considerando o impacto das transformações sociais na formulação das políticas de atendimento voltadas para crianças pequenas em diferentes contextos. A autora analisa a institucionalização da infância no Brasil e em países membros da OCDE, abordando os conceitos de eqüidade, igualdade e os direitos das crianças de 0 a 6 anos. Ao mesmo tempo, levanta os avanços legais e os desafios decorrentes de uma realidade de atendimento construída a reboque das necessidades da população. A investigação abrange as secretarias municipais de educação e suas estratégias de atendimento e gestão, enfocando as mudanças decorrentes da implantação do FUNDEF. A análise revela (i) os novos arranjos presentes na educação infantil e no ensino fundamental e suas influências na estrutura e na organização dos sistemas municipais de ensino e (ii) os elementos significativos para a construção de novas práticas no campo da Educação Infantil, que, no momento, restringe as possibilidades das crianças de menor renda ao que é possível e não ao que é necessário ou desejado.
        Lea Tiriba (2005), na tese de doutorado “Crianças, natureza e educação infantil”8 tem como pressuposto a idéia de que há uma relação entre a degradação das condições ambientais e a desatenção às necessidades das crianças em espaços de educação infantil. A pesquisa de campo foi realizada nos Centros de Educação Infantil de Blumenau/Santa Catarina - que atendem crianças de 0 a 6 anos em horário integral. Através da investigação qualitativa, com observação participante, questionários e entrevistas, foram analisados os espaços físicos de 70% dos CEIs de Blumenau, quanto ao tempo livro e contato com elementos do mundo natural (terra, areia, água, vegetação). A pesquisa incluiu, ainda, entrevistas com profissionais que atuam com as crianças.O material colhido revela concepções e práticas coerentes com uma visão de mundo que separa ser humano e natureza, corpo e mente, razão e emoção. Dentre outros aspectos constatados pela tese, o tempo entre paredes suplanta o tempo ao ar livre e a natureza é vista como fonte de doenças e perigos.
        A dissertação de Sílvia Barbosa (2004), “Nas tramas do cotidiano: adultos e crianças construindo a Educação Infantil”, tem como objetivo estudar as interações estabelecidas entre crianças e adultos no cotidiano de uma escola pública de educação infantil no município do Rio de Janeiro. Para compreender esse cotidiano, leva em conta o ponto de vista da criança, de como a criança se apropria desse espaço, o que ela faz e diz, entendendo a importância da brincadeira para a criança conhecer o mundo e reconhecer-se no mundo. A análise parte do diálogo com o pensamento de autores identificados com estudos sobre a infância, a criança e a educação infantil (Benjamin entre outros). O primeiro capítulo fala dos encontros possíveis entre a educação infantil, a infância e a criança. O segundo capítulo apresenta uma descrição das escolhas, acertos e desacertos, nos quais se estruturaram os rumos desta pesquisa. E, o terceiro capítulo, traz uma análise do cotidiano da educação infantil a partir da observação das interações entre crianças e adultos e das crianças com seus pares. Esse estudo é um convite a olhar a infância a partir do que é específico da criança – seu poder de imaginação, fantasia, criação – entendendo as crianças como produtoras de cultura e que nela são produzidas.9
        Núbia de Oliveira Santos (2005), na dissertação de mestrado “Infância, práticas culturais e consumo: um olhar sobre crianças e adultos numa escola pública” tem como objetivo investigar a relação da criança com o consumo, partindo de suas interações entre si e com os adultos, e da observação das suas práticas culturais, numa escola pública situada na zona norte do Rio de Janeiro. Depois de apresentar as questões metodológicas que nortearam a construção do olhar da pesquisadora e a concepção de infância e de criança que acompanhou durante todo o processo de escrita deste trabalho, é traçado um panorama teórico trazendo os autores que ajudaram a pensar sobre infância, práticas culturais e consumo, fazendo um diálogo com as falas das crianças que emergiram do campo. São então descritas situações provocadas pela pesquisadora para compreender melhor as questões que foram surgindo ao longo do caminho. Ao final, é feita uma análise do papel da escola e de situações que mostram como a publicidade tem invadido o espaço escolar. Benjamin, Sarlo e Ribes Pereira são referências teóricas importantes deste trabalho. 10
        Anelise Nascimento (2004), na sua dissertação de mestrado “Infância e Cidade: crianças e adultos em uma pracinha do Rio de Janeiro”, parte do reconhecimento das crianças como atores sociais e considera o espaço como mediador das relações e formador da subjetividade humana. A dissertação, realizada sob inspiração etnográfica, é um mergulho em uma pracinha da cidade do Rio de Janeiro. O foco do estudo esteve voltado para os espaços destinados às crianças em nossa cidade e, o objetivo central foi pesquisar as relações entre crianças e adultos em um espaço público. Ao perceber as redes de significados que envolvem os freqüentadores da Praça Xavier de Brito, também conhecida como Praça dos Cavalinhos, este estudo pretende contribuir para o debate sobre a infância em diferentes contextos sociais, ajudando a pensar sobre o papel e o lugar das crianças na contemporaneidade.11
        Maria Teresa Jaguaribe Alencar Moura (2005), na dissertação de mestrado “Arte e Infância: Um estudo das interações entre crianças, adultos e obras de arte em museu”, desenvolve uma pesquisa no Museu de Arte Moderna, tendo como foco de atenção as crianças, os jovens e os professores que aderiram, em visitas escolares, ao Programa Educativo, e os profissionais responsáveis por esse atendimento. A partir da observação direta de registros escritos e de imagens, busca conhecer e compreender interações entre crianças, jovens, adultos e obras de arte no espaço do Museu e refletir sobre essas interações no que se referem ao desenvolvimento da sensibilidade estética e da capacidade de apreciação crítica. Reconhecendo a infância como uma construção social e compreendendo as crianças e jovens como atores sociais, o referencial teórico foi constituído com base na sociologia da infância, na filosofia antropológica de Walter Benjamin e na psicologia de Lev Vygotsky. Ao perceber a arte como fonte da subjetividade humana, patrimônio e direito a ser legitimado, e o museu e a escola como parceiros potenciais na tarefa da formação artística e cultural de todos, a pesquisa procura nas redes de significado que se formam entre os indivíduos envolvidos e as obras de arte expostas, subsídios para a construção de um texto que si inspira na etnografia como metodologia para a descrição e análise da realidade observada.12
        Leda Fonseca (2004) analisa, na dissertação de mestrado “Salas de Leitura – Concepções e Práticas” o Programa Salas de Leitura da rede municipal do Rio de Janeiro. Seu objetivo é analisar as atividades realizadas nesses espaços, particularmente, as práticas instituídas com o texto literário. Para contextualizar historicamente as Salas de Leitura, analisa os documentos oficiais que regulamentam o programa desde a sua implantação. Verifica que as Salas de Leitura deixaram de ser espaços privilegiados de práticas leitoras de textos literários, como eram em sua origem, para se tornarem espaços multimidiáticos. Além da análise documental, observa duas Salas de Leitura e realiza entrevistas com professores e alunos dessas escolas. Analisando o material empírico, percebe que coexistem diferentes concepções e expectativas em relação ao programa. A pesquisa se situa numa perspectiva sócio-histórica, em que as idéias de Mikhail Bakhtin são importantes referenciais.13
        Leda Marina Santos (2004), na dissertação de mestrado “Alfabetização e Letramento: fios que tecem a leitura e a escrita no cotidiano da escola Beta” discute os conceitos de alfabetização e letramento a partir da análise de práticas pedagógicas desenvolvidas por três professoras atuantes do 1º ciclo do Ensino Fundamental, de uma escola pública de Niterói. Fundamenta-se em Magda Soares e Paulo Freire. Ao lado da discussão teórica, foram feitas observações sistemáticas nas salas de aula e entrevistas com as professoras pesquisadas que revelaram contradições no ensino da leitura e da escrita. O caminho para enfrentar as contradições foi o diálogo com a antropologia, uma vez que este campo busca compreender os fenômenos a partir da lógica dos sujeitos pesquisados. A escola como instituição de ensino da leitura e da escrita revela investimento maior no ensino da técnica de ler e escrever do que no desenvolvimento de práticas leitoras e escritoras. A literatura, entretanto, é um dos caminhos possíveis para o desenvolvimento de forma concomitante dos conceitos de alfabetização e letramento. Como conclusão, sugere que haja propostas de práticas sociais que envolvam a língua escrita com reflexão sobre a concepção ideológica do processo de letramento.14
        “Infância, educação infantil e inclusão: um estudo de caso em Vitória”, é a tese de Rogério Drago com defesa prevista para dezembro de 2005. Esse estudo tem como objetivo central investigar, através de um estudo de caso, como se dá a inclusão da criança deficiente nas salas regulares da Educação Infantil do município de Vitória, à luz das representações sócio-interativas da criança deficiente com o meio que a cerca, ou seja, o contexto das relações estabelecidas entre a educação, as características físicas e o cotidiano da criança deficiente em interação com o meio regular de ensino. O foco de observação do cotidiano foi o Centro Municipal de Educação Infantil do Sistema de Ensino de Vitória que possuía crianças deficientes incluídas nas salas regulares do ensino comum. A pesquisa de campo foi realizada em uma sala de pré-escola, composta por vinte e cinco crianças e incluiu a professora, o corpo técnico-administrativo e as equipes de assessoramento tanto de Educação Infantil quanto de Educação Especial da Secretaria de Educação que prestavam serviço de acompanhamento no referido CMEI. O referencial teórico foi delineado com base na obra de Vygotsky.15
        Hilda Linhares da Silva Micarello, na sua pesquisa realizada como tese de doutorado “O que sabem os que fazem? Saberes docentes e processos de construção de identidade” (defesa prevista para março de 2006), tem como objeto os saberes docentes de professores da educação infantil, que atuam em pré-escolas. Partindo da noção de saber relacional, que se constrói e se explicita na linguagem, a tese se baseia em entrevistas com sete professores da educação infantil da rede pública municipal de ensino de Juiz de Fora e a reflexão, entre pares, desses docentes sobre sua prática. Os enunciados proferidos pelos professores são analisados numa perspectiva dialógica tal como formulada por Mikhail Bakhtin, como diálogo entre textos. Na análise, os enunciados e as práticas dos professores se configuram como contrapalavra aos discursos oficiais e científicos sobre o profissional da educação infantil. A pesquisa aponta a relação entre as condições institucionais em que se dá a prática dos professores, os saberes por eles construídos e a identidade do professor de educação infantil.
        Maria Batista Lima pesquisa as Práticas Cotidianas e identidades étnicas: um estudo com crianças no contexto escolar, na sua tese de doutorado (com defesa prevista para março de 2006) que busca compreender o lugar das práticas cotidianas na formação da identidade das crianças a partir das interações entre crianças, entre crianças e adultos e destes com os artefatos materiais e simbólicos (brinquedos, livros. cartazes, revistas , murais, etc)
        Além dessas pesquisas, inúmeras monografias do curso de especialização em educação infantil vêm sendo produzidas16 . Anelise Nascimento (2000) apresentou a monografia de especialização Educação Infantil no contexto das políticas públicas: a análise das propostas pedagógicas dos municípios do Estado do Rio de Janeiro. Essa monografia situa-se no campo das políticas públicas para infância. Sua elaboração se deu no contexto da pesquisa institucional “Formação dos profissionais da Educação Infantil no Estado do Rio de Janeiro: concepções, políticas e modos de implementação”. As reflexões têm como fundamentação teórica a revisão bibliográfica e discussões realizadas nas reuniões de pesquisa como também as trocas realizadas com meus colegas e professores ao longo dos três semestres desse curso. Esse estudo busca conhecer as propostas pedagógicas de Educação Infantil dos municípios do Estado do Rio de Janeiro a fim de, com suas análises, investigar o que vem sendo planejado como políticas públicas para infância, nos municípios de nosso Estado. O material analisado foi enviado pelas Prefeituras, para equipe de pesquisa.17
        Denise Sans Guerra Gomes da Silva (2004) na sua monografia de especialização. Um olhar sobre o diálogo entre o aspecto arquitetônico e o mobiliário das classes de educação infantil enquanto instrumentos ambientadores e coadjuvantes no processo de descobertas na aprendizagem. buscou, através de pesquisa de campo, aliada à pesquisa bibliográfica, compreender as possíveis interferências causadas pelo espaço ambiente ao processo de construção de conhecimentos na educação infantil. Foram analisadas duas creches, levando-se em conta as características arquitetônicas e do mobiliário e sua relação com os afetos que os mesmos despertam no cotidiano de tais unidades.
        Além desses trabalhos, estão sendo realizadas – também como teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização – pesquisas específicas que serão colocadas em interlocução com os resultados aqui obtidos, e mesmo em análise comparativa com as teses e dissertações já elaboradas, descritas acima. Até o momento, estão sendo desenvolvidas as seguintes pesquisas: uma tese voltada às interações entre bebês, em duas creches, uma pública e uma comunitária (Guimarães, 2004); uma tese sobre as relações culturais da primeira escola de educação infantil do município do Rio de Janeiro, situada no centro da cidade (Fazolo, 2004); três dissertações de mestrado que focalizam práticas de educação infantil também voltadas para o estudo da diversidade, identidade e autoridade, sendo duas na rede pública e uma na privada; uma monografia de especialização sobre trajetórias homens que são professores de educação infantil (Santos, 2005). Todos estes trabalhos se beneficiam do referencial teórico-metodológico construído nesta linha de pesquisa pelo grupo “Infância, Formação e Cultura” e, ao mesmo tempo, levantam questões para a pesquisa institucional. Neste debate, com estudo, espírito crítico, o rigor e a disciplina necessária para o trabalho acadêmico, vai se construindo um conhecimento sempre inquieto.

Algumas palavras sobre o momento atual do trabalho de pesquisa

        Até julho de 2005, a estratégia metodológica constou de revisão bibliográfica e aprofundamento do referencial teórico. Definimos também as estratégias metodológicas para o trabalho de campo, agora iniciado (agosto de 2005). No que se refere ao trabalho teórico, foram realizados seminários, produzidos textos e foi também feita uma revisão de literatura a partir dos Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas (Kramer, 2004). Um Roteiro de Observação foi elaborado coletivamente enquanto diretriz para a pesquisa de campo. Foram ainda levantadas possibilidades e escolhidas escolas, pré-escolas e creches que constituirão o estudo exploratório (totalizando 20) e a observação intensiva. Foram também estabelecidos contatos com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e com as instituições comunitárias que pretendemos observar. Confeccionamos, ainda, uma planilha de dados das instituições a serem visitadas.
        Os três primeiros seminários se voltaram ao estudo de “Questões da pesquisa com crianças”; “Os espaços na cidade e a educação infantil”; “Desafios teórico-metodológicos na pesquisa com crianças” com o objetivo de refletir sobre os dilemas teórico-metodológicos apontados em pesquisas recentes com crianças em centros urbanos. Ou seja, estivemos preocupadas em sensibilizar e disciplinar nossos olhares para o trabalho de campo, preparar COMO olhar. A partir daí, outros quatro seminários foram realizados com o objetivo de refletir sobre características e marcas relativas ao espaço, ao tempo, a linguagem, a identidade, a diversidade e a autoridade no contexto da educação infantil e da cultura contemporânea. Ou seja, aqui nos preocupamos em pensar O QUÊ olhar no campo: “Infância, cultura contemporânea e educação ” teve como propósito perceber a cultura contemporânea e a partir daí situar a criança e o adulto nesse contexto, tanto quanto buscar observar como os valores contemporâneos influenciam a formação da identidade da criança, do adulto e da escola. Dentre as questões analisadas, pode-se ressaltar: Como foi observado o processo de apropriação da cultura contemporânea pelas crianças? De que forma este processo participa na construção da identidade da criança e do grupo? “A construção da identidade das crianças de 0 a 3 anos no contexto da(s) creche(s)” teve três focos de discussão: quem são e como convivem crianças e adultos no cotidiano da creche? O espaço creche, como palco de relações, possibilita o fortalecimento da identidade das crianças? Que metodologia de pesquisa pode favorecer a expressão da identidade da criança através da fotografia e de ouvir as crianças? “Vozes, gestos e silêncios: a linguagem enquanto questão que marca a relação adulto/criança” objetivou refletir sobre as diferentes linguagens na escola e no contexto da educação infantil. Foi objetivo considerar também o papel do professor na relação com a criança (por exemplo, essa é uma relação dialógica ou autoritária?). O que a linguagem pode estar indicando sobre questões relacionadas a identidade, diversidade e autoridade? “O tempo na educação infantil” teve o propósito de compreender questões relacionadas ao tempo no cotidiano infantil, e a administração deste tempo pelos adultos. Foram levantados os seguintes questionamentos: a administração do tempo cronológico administrado pelos adultos respeita os tempos subjetivos das crianças, ou seja, o tempo de brincar, o tempo do lúdico? Até que ponto há uma flexibilidade da organização do tempo e como essa organização interfere nas diferentes interações? Os seminários resultaram na construção de artigos já publicados ou encaminhados para publicação.18
        Foram também elaboradas, pelas três bolsistas de Iniciação Científica19 , resenhas de artigos do periódico “Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas”, a partir uma revisão de literatura (Kramer, 2004). Este trabalho proporcionou um debate em torno de conceitos polêmicos postos pelos autores. Dessa análise, constam abordagens sobre relatos de experiência de formação de creches, políticas públicas para educação infantil, questões éticas sobre pesquisa com crianças, além de contribuições da psicologia da educação e da sociologia que traz à tona um debate em torno da definição social da infância e da criança, tal como o papel da instituição educacional em detrimento da classe social pertencente. Para alguns autores estudados, diferentes funções são assumidas pelas instituições voltadas para o público infantil de acordo com diferentes classes sócio-econômicas 20 .
        O desenvolvimento dessas atividades foi necessário para fundamentar o trabalho da pesquisa e o movimento de compreender a infância e a criança no contexto educacional e da cultura contemporânea, sem perder de vista o foco que são as relações entre crianças e adultos e as questões de identidade, diversidade e autoridade implicadas nessas interações. Em agosto de 2005 iniciamos o estudo exploratório. Estamos atualmente observando 20 instituições (creches, escolas exclusivamente de educação infantil ou turmas de educação infantil que funcionam em escolas de ensino fundamental). Finda essa etapa, serão escolhidas as instituições onde serão realizados os estudos de caso simultâneos.
        Ao longo do projeto e após a sua conclusão todos os dados e resultados serão apresentados e entregues para as instituições, os sujeitos da pesquisa e a Secretaria de Educação, como fizemos na pesquisa sobre a formação.
*                                                          *                                                         *
        Assim, a trajetória do INFOC vai se delineando. Sua natureza investigativa - voltada ao estudo das práticas culturais e educacionais que marcam a formação de professores e as interações entre crianças e adultos – se entrecruza no tempo e às vezes no espaço com trabalhos com escolas públicas e privadas, na assessoria a projetos de secretarias municipais de educação ou promoção social, junto a equipes de formação e no Curso de Especialização em Educação Infantil que venho coordenando, também na PUC-Rio, desde 1994. Pesquisa e intervenção vão se realimentando; a pesquisa levanta perguntas, evoca possíveis respostas, ajuda a compreender a empiria, num processo tenso e denso, onde se entrelaçam questões relativas à produção do conhecimento, questões de natureza ética e estética (a arquitetura da pesquisa, no dizer de Bakhtin, 1992). A pesquisa tem ainda como objetivo compreender a realidade – as práticas, as políticas – e visa, sempre que possível, fornecer subsídios para enfrentar os problemas educacionais, culturais e de formação o que, num país como o Brasil, não é nunca simples, dada à situação de desigualdade historicamente constituída e a diversidade que marca nossas populações e ações.
        Esperamos, tal como fizemos em outros projetos, que os resultados obtidos com as pesquisas produzam, de um lado, conhecimentos teóricos necessários para a compreensão das interações entre crianças e adultos e para o aprofundamento da área de estudos da infância e da educação infantil e, de outro lado, que forneçam subsídios para políticas públicas de educação infantil, ensino fundamental e formação de professores, tanto no que se refere à gestão quanto às práticas com crianças.

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NOTAS
1Este texto contou com a colaboração de Juliana Pereira da Silva, Alexandra Couto e Luciana Alves Bolsistas de Iniciação Científica/CNPQ e Patrícia Elaine dos Santos, Bolsista de Apoio Técnico/CNPQ, a quem agradeço.
2Sonia Kramer é professora do Departamento de Educação da PUC-Rio.
3O INFOC é coordenado por Sonia Kramer (PUC-Rio). A vice-coordenação é de Maria Fernanda Nunes (PUC-Rio e UNIRIO) e Patrícia Corsino (UFRJ). Os projetos têm apoio do CNPQ. De 1999/2004 tivemos apoio da FAPERJ.
4Integravam o Grupo de Pesquisa INFOC em outubro de 2005: Adriana Fresquet, Alexandra S. Couto, Anelise M. Nascimento, Daniela Guimarães, Denise Sans Guerra Gomes da Silva, Eliane Fazolo Spalding, Juliana Pereira da Silva, Luciana Alves, Maria Fernanda Rezende Nunes, Maria Tereza Jaguaribe Moura, Núbia de Oliveira Santos, Patrícia Corsino, Patrícia Elaine Pereira dos Santos, Rosaura Ferreira Santos, Silvia Néli F. Barbosa, Sonia Kramer.
5Revisão bibliográfica de estudos da infância é apresentada em Kramer (1996) e Barbosa, Kramer e Pereira (2005)
6Teses e dissertações desse período estão em Kramer e Leite (1996; 1998). Ver também Kramer (2002), sobre questões éticas da pesquisa com crianças.
7PALAVRAS – CHAVES: Infância, linguagem e letramento.
8Defendida na PUC-Rio, com orientação de Leandro Konder.
9PALAVRAS-CHAVES: Infância, criança, educação infantil, brincadeira.
10PALAVRAS-CHAVE: Infância, criança, consumo, publicidade, televisão, escola.
11PALAVRAS-CHAVES: Infância; cidade; espaço público
12PALAVRAS-CHAVE: Educação, infância, arte, museu de arte.
13PALAVRAS-CHAVES: leitura; sala de leituras, discursos sobre leitura, letramento literário
14PALAVRAS-CHAVES: Ensino Fundamental; alfabetização; letramento, práticas leitoras.
15PALAVRAS CHAVE: educação infantil , educação inclusiva, infância.
16Uma reunião de monografias pode ser encontrada no cd-rom Educação Infantil (Kramer, 2003)
17PALAVRAS-CHAVE: políticas públicas; propostas pedagógicas; formação de profissionais da Educação Infantil
18Ver Barbosa, Kramer e Pereira (2005).
19Alexandra Couto, Juliana Pereira da Silva e Luciana Alves.
20CHAMBOREDON, Jean Claude, PRÉVOT, Jean. O “ofício de criança”: definição social da primeira infância e funções diferenciadas da escola maternal. In: Cadernos de Pesquisa: Fundação Carlos Chagas, n.59, novembro 1986, p.32-56.