Esta pesquisa tem como objetivo avaliar as consequências, para a dinâmica familiar, da revelação de abuso sexual intrafamiliar de crianças, em particular no que se refere a sua organização e a seus processos de estabelecimento, manutenção, modificação e rompimento de relações, vínculos e alianças. Sugere, desta forma, uma discussão sobre o abuso sexual intrafamiliar de crianças como síndrome de segredo e adição e como uma forma de manutenção da coesão do grupo familiar, com precipitação de uma crise a partir da ruptura do segredo e deflagração de uma série de intervenções dos integrantes do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes (SGD). Para viabilizar a análise das vicissitudes experimentadas pelas famílias, procedeu-se a um estudo qualitativo que, utilizando a técnica da entrevista narrativa, possibilitou o acesso ao discurso familiar enunciado a partir da fala de 03 (três) mães, cujas famílias foram acompanhadas por um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) do município do Rio de Janeiro no processo de proteção e responsabilização e de reorganização familiar. As entrevistas foram gravadas com a permissão das informantes, transcritas e submetidas à análise de conteúdo na sua modalidade temática. As conclusões apontam para a necessidade de abordagens que compreendam a família como totalidade, incluídos seus vínculos e elementos de coesão, construtivos ou destrutivos, como forma de escapar aos limites impostos por intervenções centradas na díade autor–vítima e de contribuir para o processo de reorganização familiar.