O diagnóstico do autismo é feito com base na tríade de prejuízos que engloba problemas na comunicação, nos comportamentos sociais e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades. Embora esse critério diagnóstico não faça referência em momento algum a prejuízos sensoriais, crescem as evidências, advindas principalmente de relatos autobiográficos de autistas de alto funcionamento, de que o transtorno autista seja uma condição diretamente relacionada a um aparato sensorial imperfeito. Essas evidências são complementadas com pesquisas científicas que levam em consideração, em sua maioria, relatos retrospectivos de pais e cuidadores. Estudos indicam que problemas sensoriais já estão aparentes no primeiro ano de vida de uma criança autista, podendo inclusive ser úteis para um rastreamento precoce do transtorno. Considerando-se a importância do aparato sensorial para o desenvolvimento das relações interpessoais do bebê e o fato de 69% a 80% dos autistas apresentarem problemas sensoriais, o objetivo do trabalho é iniciar uma reflexão sobre a possível relação da tríade de prejuízos do autismo com um aparato sensorial imperfeito no bebê, começando a se pensar no autismo como, talvez, um transtorno de natureza sensorial.