Esta tese de doutorado tem como objetivo identificar as concepções e os saberes mobilizados no exercício da docência de professores-formadores do curso de Pedagogia que atuam em disciplinas relacionadas à Educação Matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental. A escolha e a relevância do tema se justificam pela necessidade de pesquisas que analisem esse grupo específico de profissionais cuja atuação impacta, mesmo que indiretamente, no processo de ensino-aprendizagem dos conhecimentos matemáticos de alunos dos anos iniciais, dado o papel significativo que desempenham na formação dos futuros professores. A pesquisa conta com a participação de 25 professores-formadores, com trajetórias acadêmicas e profissionais diversas, que atuam nos cursos presenciais de Pedagogia em instituições de Ensino Superior públicas e privadas. Utilizando uma abordagem qualitativa, os dados foram produzidos por meio de questionários de autoaplicação, entrevistas semiestruturadas e fontes documentais das disciplinas de Educação Matemática ministradas pelos participantes (planejamentos, atividades e avaliações). As respostas aos questionários foram analisadas estatisticamente com o auxílio do software SPSS, enquanto as entrevistas e materiais didáticos foram submetidos à análise de conteúdo, proposta por Bardin. As interpretações e análises dos dados foram realizadas a partir da interlocução dos discursos dos participantes com o referencial teórico que versa sobre: os saberes docentes, com destaque para Tardif e Shulman, o conhecimento especializado do professor que ensina Matemática, apontado por Carrillo, e a docência no Ensino Superior sob a perspectiva de Cunha, Bolzan e Isaia. Os principais desafios encontrados pelos professores-formadores no exercício da docência no curso de Pedagogia são relacionados aos contextos emergentes com que se deparam na sala de aula e aos impactos dos efeitos institucionais em sua profissionalidade, especialmente para os que atuam em instituições de Ensino Superior privadas. Durante a investigação foi possível constatar que os percursos formativos e as trajetórias profissionais dos participantes impactam na construção da identidade profissional como formador de professores. Sobre a especificidade dessa identidade, foram reconhecidas duas posturas frente à inserção no curso de Pedagogia: docentes que se compreendem enquanto formadores das novas gerações de professores que ensinarão Matemática nos anos iniciais e aqueles que, apesar de encarar o exercício de sua docência com seriedade e profissionalismo, não se identificam com o lugar do professor-formador de pedagogos. Neste caso, a não-identidade como formador, justificou-se por uma transitoriedade na função, pois ocupam esse lugar motivados, majoritariamente, por questões financeiras e/ou burocráticas de complementação de carga horária. Estes reforçam estereótipos sobre a relação dos licenciandos com os saberes matemáticos em seus discursos e práticas. Por outro lado, os docentes que assumem a identidade de formadores do curso de Pedagogia, recorrem à uma perspectiva didática multidimensional que prioriza as dimensões relacionais e motivacionais. Nesse sentido, os saberes construídos e mobilizados por cada grupo são diferenciados. A pesquisa aponta para a necessidade de uma formação inicial que aborde o conhecimento especializado dos professores que ensinam Matemática em sua integralidade, não se limitando à superação das crenças dos licenciandos, o que demanda novas investigações que subsidiem a formação continuada e o trabalho dos professores-formadores.